Olheiros

sábado, 29 de novembro de 2014

Mão de Popeye.

Chovia...
Dia chato, domingo chato.
Minha mãe junto com minha irmã preparavam o almoço na cozinha, meu pai espalhado no sofá, fumava seu cigarro enquanto assistia televisão, a sala fica com uma névoa fedorenta com fios lânguidos da fumaça do cigarro. Os pingos da chuva e aquele ar frio curitibano. Eu sem ter o que fazer, só me restava destruir os carrinhos, tirar as rodas, amassá-los para simular acidentes automobilísticos. Nunca gostei de brincar com carrinhos, gostava de vê-los destruídos!
Quando descobri o fogo e que o perfume fedorento que meu pai usava era inflamável, as possibilidades destrutivas aumentaram, derreti algum carrinho fazendo uma poça de perfume e ateando fogo.
O fogo me fascinava, assim como a brasa vermelha do cigarro, eu sempre pedia pro meu pai deixar eu jogar fora a guimba acesa, só pra ficar assoprando e ver o vermelho da brasa.
Porém neste dia não foi esta minha brincadeira.
Estava lá eu, entendiado, quando vejo minha irmã passar com uma bacia com restos de casca de batatas. Fui atrás, pois eu era muito intrometido e questionador, quando a vi erguendo a janela para logo em seguida jogar as cascas de batata na lixeira que ficava abaixo da janela, resolvi demonstrar minhas habilidades heroicas! Tinha o ledo engano que eu era um super herói, que superpoderes surgiam de hora pra outra e eu podia voar, arrancar árvores, escalar prédios, dar super saltos! Era muito imaginativo!
Então no momento, "eu sou forte", pedi que minha irmã deixasse eu segurando a janela enquanto ela ia até a cozinha buscar mais coisa para jogar! E ela deixou!
No instante em que ela cruzou a porta, meus superpoderes se extinguiram! E fiquei a gritar para que ela voltasse e ela apenas disse, "-você não é o Batman, aguenta aí, já volto!", não tava suportando e resolvi ser ninja, achei que conseguiria tirar a mão rapidamente assim que soltasse a janela.
Não fui tão rápido como na minha mente e a janela esmagou meus dedo, dois para ser exato!
Fui levado aos berros para o hospital, chorava mais que a dor sentida, via minha unhas penduradas e o sangue manchado na toalha que minha mãe havia enrolado e a dor aumentava!
Chegamos ao hospital, local hostil pra mim, tinha pavor e a té o cheiro do lugar me dava calafrios!
Quando me vejo em uma sala estranha, cheia de maquinário, um cara com roupa verde e uma touca esquisita na cabeça tira a toalha de minha mão e pede para que eu a apoie sobre uma chapa de metal! Naquele momento veio em minha mente que amputariam minha mão! E num instante dei um salto e sai correndo pelos corredores do hospital aos berros, com mão pra cima com as unhas penduradas. Fui parado na porta de saída pelo meu pai, que me arrastou de volta para a mesma sala. Mas foi inútil, não conseguiram me fazer por a mão sobre aquela chapa! Gritei, berrei, fechei a mão, chutei... parecia uma touro bravo! O enfermeiro se encheu e disse que não iria tirar mais o raio X.
Após tanta confusão e gritos, foi feito apenas um curativo e digo que quando vi a bisnaga de mercúrio na mão do enfermeiro, saltei da maca achando ser uma injeção gigante, somente após muita conversa e eu segurando minha mão e olhando de perto deixei passar o remédio, fomos embora do hospital, os médicos e enfermeiros achando que eu era algum selvagem, tamanho o escarcéu que fiz.
Chegando perto de casa, olho para minha mão que já era gordinha e fico feliz ao ver o inchaço, mostro pro meu pai e digo, "-Olha, tô com a mão do Popeye!"

Frango bom é frango assado!

...corria lépido e faceiro (sempre quis escrever isto!) pelo quintal, por entre as galinhas, animais que eu achava um tanto curiosos, com sua aparência "dinossaurica" e seu eterno ciscar. Pois bem, lá estava eu, roliço menino de dedos gordos e mãos fofas, mente ardilosa sempre tramando alguma arte silenciosa, eu era mago em fazer artes sem ser descoberto!
Contudo neste dia não tive tempo de fazer arte.
Corria eu pelo quintal, estava feliz por entre os animais emplumados, o farfalhar das penas era engraçado e fazê-los correr de uma lado ao outro era legal! Incomodar as pobres aves era legal.
Porém, do nada, surge em minha frente uma ninhada de pintinhos, emplumadinhos amarelos, parecidos com bolinhas de tênis com perninhas! Tentei chutar alguns, mas eram ligeiros, quando eu me aproximava, eles corriam!
Já estava um tempo nesta caçada insana, tentando chutar uma daquelas bolinhas com pernas, correndo de um lado para o outro, quando um deles resolve vir ao meu encontro e eu sem perceber piso em cima do pobre coitado, que soltou um guincho, o último suspiro! Parei inconsolado, apesar de estar tentando fazer uma malvadeza, não era minha intenção pisotear o bichinho! Quando me abaixo para ver o ocorrido, uma galinha gorda, de um tom alaranjado, com as penas ouriçadas, se atira sobre mim, devia ser a mãe do pintinho, rolo pelo quintal, (algo que não era difícil, já que era bem gordinho.) com a galinha a me bicar e dar unhadas em meu corpo todo, achei que iria morrer, pois o bicho não saía de cima de mim e ninguém estava lá para me socorrer, era apenas eu e a galinha numa surra épica, com o resto das aves de platéia, se divertindo com meu desespero!
Assim como do nada surgiu, do nada ela desapareceu, fiquei num canto encolhido com medo e dolorido, quando a galinha desistiu de me surrar e se afastou, levantei, olhei para os lados e sai em disparada para dentro de casa!
Com o ego em feridas, entrei quietinho, nem falei nada, nem da surra que levara, nem do pintinho que matara! Depois deste episódio, nunca mais cheguei perto de pintinho, galinha, nem de passarinho eu gosto!
Desta história, me restou uma fobia de aves! Hoje não gosto muito da ideia de estar perto de uma galinha viva, me causa um desconforto e até o cheiro me incomoda. Adoro ver uma galinha no forno, recheada...

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Penas ao vento...

...como sempre, eu e minhas artes infantis!
Toda vez que eu visitava meu tio, ficava encucado com o as peninhas do rabo do periquito que ficavam pra fora da gaiola. E sempre que não havia ninguém por perto eu segurava as penas e o pássaro se debatia apavorado.
Eu e meus dedos gordos deviam ser a pior visão daquele pobre periquito. Que por muitas vezes quando sentia minha proximidade se encolhia no fundo da gaiola a esconder suas peninhas.
Fiz isto durante muito tempo, toda as visitas eu dava um jeito de segurar aquelas penas.
Até o fatídico dia em que eu realizava a arte de sempre, lá estava eu segurando as penas do rabo do periquito, quado de repente o pobre se estatela na grade da gaiola e em minhas mãos... duas peninhas!!
De imediato, joguei as penas dentro da gaiola e sai de fininho, fui pra bem longe da gaiola. Foi lá pelas tantas que minha tia percebeu e chamou meu tio, eu vendo o movimento fui me chegando, só ouço minha tia falando, "-Ih Zé, a pena do rabo do periquito caiu!", "-Deve tá doente..." fala meu tio. Eu do lado com a maior cara de paisagem pergunto se o passarinho não tá velho e por isto que estão caindo as penas!! Até hoje ninguém sabe que foi eu quem arrancou as penas do pobre coitado!
Quiçá se fosse após a galinha ter me atacado e eu ter desenvolvido fobia de aves, não tivesse acontecido isto com o pobre periquito!

domingo, 11 de setembro de 2011

Mordidas...

Pobre Janaína, prima mais nova e bagunceira, abria os armários e jogava tudo no chão, mais tarde quando sua mãe a segura no colo, me esgueirei por debaixo da mesa e cravei meus dentes na perna da menina, em represália por bagunçar as panelas de minha mãe!
Sempre fui um silencioso vingativo, espera um boa oportunidade para me cobrar de algo que não me agradava... não era uma criança má, mas tinha minha dose de perversidade infantil.
Por muitas vezes artes magníficas e niguém até hoje ninguém imagina quem foi.
Como da vez que queimei o focinho do pobre Pingo!
Mania que eu tinha, roubar as bitucas de cigarro, era fascinado pela brasa vermelha e a fumaça lânguida que subia do toco de cigarro, certa vez sentado na escada na casa de um tio, o seu cachorro Pingo, um poodle gigante, estava sentado ao me lado na escada, vendo aquele nariz preto e úmido não resisti, enfiei a brasa vermelha no nariz do pobre coitado, que reagiu me mordendo, um animal inofensivo até então que não rosnava nem para defender a comida, rola escada abaixo me mordendo todo e eu assustado e dolorido aos berros.
Toda a família corre em socorro, e o pobre animal acaba levando uma surra, comentários de "- Deve estar com raiva!" e "-Deve estar ficando louco por ser velho!", culminou numa corrente no fundo do quintal e um cão depressivo que morreu acorrentado sem nunca mais poder dar umas voltas no quintal...
Este não foi o primeiro focinho que queimei, outro foi da nossa cachorrinha Soneca, contudo ela foi mais rápida e só deu uma sapecada, porém a mordida na mão foi dolorosa oquê me fez temer o cães...
Tive muitos episódios desagradáveis com cães.
O Sherife, cão de um amigo, Odair, cão este que parecia meu, de tão amigo que éramos, minha mãe tinha uma regra, tomou banho, não ia pra rua, então um dia ela saiu e eu após tomar banho fui pra rua, subi lépido a rua em direção a casa do Odair e quando cheguei no portão da casa, Sherife, pula sobre mim me atacando e me mordendo, desci o barranco rolando e sangrando, fui socorrido pelo pai do meu amigo, que me levou no colo até a minha casa, fui parar no hospital... vai ver que o cão não conhecia meu cheiro de menino limpo!

sábado, 10 de setembro de 2011

Nasci urbano...


Nasci...
Menino gordo e robusto!!
-5kg disse o médico... a enfermeira seca o suor da testa, o sangue do que resta,  o choro se espalha pela sala, pronto, cheguei no mundo!
Já cheguei me ferrando, omoplata ( que agora chama de escápula) deslocada, vai ver foi o médico ao me trazer para este mundo, ou vai ver por eu não querer vir para este mundo, imundo...
Meu pai esfrega o bigode no vidro da sala dos recém nascidos, procurando por um esquálido herdeiro, porém agigantada criança acena à cena.
Bochechas róseas, sim, brasileiríssimo miscigenado, nasci claro, pardo, marrom clarinho, abombonado!
Segundo filho amado, disputando espaço com a irmã fenômeno, dançarina, simpática, conversadeira...
Nasci apático, cisudo, velho ranzinza...
Sofrida infância dos apelidos malditos, hoje é bulling, não morri, nem tive problemas psicológicos... acho!
Bujão de gás era doce na boca de minha hoje falecida amada irmã, que apesar de tudo era amada por mim mesmo, sem demagogia ou falácia pós mortis...
Criança birrenta, que contrariado se sentava no chão e na havia Cristo que me tirasse de lá, ou me levantasse, pois era pesado por demais...
Até hoje minha madrinha exibe a cicatriz por ter caído comigo no colo, fraquejou as pernas, diz ela, quando me arquei, pra variar por birra, e a pobre rola no chão comigo no colo.
E lá eu, menino chato e insuportável, sentava-se no chão a pedir por "-Taco! Taco!" apontando para um táxi encostado, sabia desde de pequeno que andar de ônibus não era legal!
Assim fui crescendo e minhas histórias se multiplicando...